Só instrução não basta
Hoje em dia qualquer jovem que saia do segundo grau e ingresse numa faculdade, tem em mente a utópica futura consecução de um emprego digno e que conte com um salário a contento para suas necessidades. Para isso, esses jovens se entregam a sacrifícios muitas vezes homéricos para completar os estudos: enfrentam estágios sem qualquer acompanhamento ou, mesmo, atrelamento com a área de formação e que mais parecem um regime escravo; trabalham de dia e estudam á noite para custear as muitas despesas; moram, muitas vezes, em condições abaixo das necessárias para o seu bom desenvolvimento físico e intelectual, dentre outros absurdos. Quando finalmente se veem formados, esses jovens pensam: “ufa! Valeu a pena. Agora, pelo menos, eu tenho um rumo…”
O problema é que “na realidade a teoria é outra”. Muitos jovens no mundo inteiro, mesmo qualificados e aptos à trabalhar, têm sido preteridos nos processos empregatícios, e muitos são os exemplos disso. Hoje mesmo, ao ler um artigo na Folha de São Paulo, deparei-me com a triste notícia de que existem 7 milhões de jovens entre 15 e 24 anos que, por mais que se esforcem, não conseguem se firmar nos mercados de trabalho na América Latina. Em outras palavras, temos milhões de trabalhadores iniciantes que, mesmo se jogando ás garras do mercado, não atingem as expectativas que nutriram durante seu processo educacional. E isso, logicamente, acaba se tornando uma frustração e um problema.
O emprego dos jovens é um desafio político, porque, quando essas expectativas são traduzidas em desânimo e frustração, se torna mais difícil a estabilidade de nossas sociedades e até mesmo a representatividade e a governabilidade democráticas. […] Além disso, existe o problema da relação com a vida profissional, pois, quando os jovens não têm oportunidade, dificilmente conseguem quebrar o ciclo de pobreza e trilhar uma trajetória de trabalho decente. Estaremos desperdiçando o talento e a capacidade produtiva necessária para alcançar o crescimento econômico.
Para piorar a situação, os jovens foram o grupo mais golpeado pela crise de emprego do ano passado. Indicadores compilados pela OIT [Organização Internacional do Trabalho] mostram que em 2009 a taxa de desemprego dos jovens aumentou mais do que a dos adultos, enquanto diminuiu a sua participação nos mercados de trabalho […]. Estima-se que mais de 600 mil jovens passaram a engrossar as fileiras dos desempregados devido à crise. Fonte: Folha de São Paulo
Ou seja, os jovens estão mais desempregados do que os adultos. E essa discrepância é, de fato, preocupante. Afinal, a nossa estrutura social não pode sobreviver sem a renovação dos seus quadros de trabalho. Hoje em dia a entrada do jovem no mercado, pelo menos no Brasil, se dá muito por intermédio de indicações e privilégios! A boa formação e a aptidão pessoal, em alguns casos, por incrível que pareça, conta menos do que um bom “contato” feito na época da faculdade…
Não que as relações sociais sejam “erradas” quando se trata de mercado de trabalho. Pelo contrário. Precisamos conhecer pessoas, trocar experiências e mostrar os potenciais que temos. No entanto, isso não pode funcionar como uma “máquina de privilégios” e concessões descabidas. É preciso que os empregadores contratem jovens realmente preparados para o exercício das funções específicas das empresas, e não simplesmente porque conhecem o “primo do irmão do neto de Beltrano”.
É preciso, então, que, além de uma maior quantidade de vagas, os jovens também tenham acesso a empregos com maior qualidade, tanto no trabalho em si quanto no processo de seleção dos novos empregados. Da mesma forma, políticas públicas poderiam incentivar ainda mais as empresas a investir em jovens talentos, criando, assim, uma cultura de manutenção do jovem no mercado do trabalho.
Em outras palavras, o que precisamos com urgência é pensar em alguma coisa para mudar definitivamente esse quadro. Porque, como eu disse no título desse texto, só instrução não está bastando no momento.
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