Reflexões de carnaval
Como disse Drummond, na poesia: “A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? (...)”(Poesia:“E agora, José?). Assim também ocorreu com o carnaval, acabou-se, findou-se, é assim ano após ano. Contudo, sempre uma inquietação emerge com força e solidez: o que move as pessoas no/ao carnaval? O que as faz saírem por dias seguidos para dançar, pular, namorar, beber, brigar, etc.? Será tudo decorrente da “alegria”, que mais parece uma abstração vazia de sentido? Terá o que haver carnaval com a Sociedade? Serão coisas díspares ou complementares? O que produz tanta euforia? Será um mero “esquecimento” por alguns dias da vida cotidiana, da batalha do trabalho diário, dos problemas? Como seria a vida social sem esses dias de folia?
Essas e outras inquietações vêm à tona sem necessariamente terem respostas. Todavia, são reflexões essenciais para pensar a própria Sociedade, sua coesão, suas fissuras, suas desigualdades, suas contradições, etc. Por sinal, as contradições sociais permanecem no carnaval, seja pela diferenciação de camisas/abadas, blocos, cordas, bairros, ou pela mera condição de descolamento para determinados nichos festivos. O fato é que o carnaval se apresenta com uma força encantadora, quase mística, que mais parece criar um mundo “espetáculo”, um mundo de sonhos, de fantasias, muitas reais, pois são vividas, já outras, essas sim, ficam apenas no imaginário, na possibilidade, no sonho, pois na quarta-feira de cinzas tudo volta ao normal. Cada qual no seu cada qual. Tudo se resume ao efêmero. As realidades voltam a predominar, sejam elas quais forem, volta o trabalho, a ordenação, a rotina, às crises, o estudo. Enfim, o trem volta ao trilho, ainda que sob trilhos tortuosos.
Mas, por que desde muito tempo, mesmo em sociedades ditas “primitivas”, sempre se comemorou algo? Seja uma boa colheita, uma cura impossível, uma passagem de uma vida para “outra”, uma mudança de fase na vida (de criança para adulto, o início da puberdade). Sempre, em diversos contextos, houve comemorações, muitas delas regadas a alegorias, cores, musicalidade, fantasias, simbologias, também sensualidade, não tanto quanto hoje, mas havia algo de sexual envolvido, etc. Claro que, não tomava o posto central como hoje. Por que isso vem sendo feito por tantos anos? E por que o carnaval veio ganhando uma dimensão mercantil tão exagerada? Esse conjunto de reflexões, meus amigos, podemos assim dizer, faz parte do empenho sociológico de entendimento do mundo. Reflexões que parecem sem sentido ou amplas demais, fazem parte da construção do saber. Aqui, estamos interessados nisso, mesmo que apenas para lançar perguntas. É uma tentativa de descortinar determinados sentidos, determinadas subjetividades envolvidas, dos grupos, dos interesses, das interações sociais, dos nexos de sentidos que perpassam essas e outras manifestações culturais.
Finalizando, até que fim acabou o carnaval e poderemos voltar a conversar sobre outros assuntos, outras questões, e não apenas sobre festas, blocos, trios, artistas, futilidades mil, etc. Chega de fantasias, ilusões, brilhos, confetes e serpentinas, afinal, temos tantos problemas para debater, ainda bem que acabou o carnaval entre alegres e tristes, mortos e feridos, ricos e pobres. Poderemos, de agora em diante, tratar de tramas sociais e do próprio jogo que é a Sociedade e suas dinâmicas.
2 Comentários:
Muito boa reflexão Bruno, acredito que nos deixamos levar no carnaval pela vontade própria de esquecermos o cotidiano.
23 de fevereiro de 2010 às 21:37De podermos sonhar com um pouco mais de realidade.
é verdade, às vezes é melhor abstrair do cotidiano, para assim, podermos viver...
28 de fevereiro de 2010 às 20:24abraço, Bruno.
Postar um comentário
Caros leitores,
não serão admitidos comentários:
- Escrito em "miguxês"
- Com conteúdo ofensivo ou pornográfico.
- Com mensagens ou insinuações racistas
- Com assuntos estranhos ao discutido no post
- Com conteúdos publicitários ou de propaganda (SPAM)
E ATENÇÃO: Os comentários publicados são opiniões dos leitores. Não do Incomode-se.