Venda social: o torpor do consumismo

Assim, as camadas privilegiadas das sociedades de consumo, depois de satisfeitas suas primeiras necessidades, tinham o prazer em consumir sem consciência. Em comprar pelo mero objetivo de se fabricar status, posições, papéis. Afinal, a própria vida do modo de produção capitalista está primeiramente ligada ao crescimento quase inconsequente do consumo e da circulação de riquezas. Os nobres remuneram uma turba de assalariados que, a qualquer custo, tentam consumir igual ou de maneira parecida aos seus patrões. Não se pensa mais nas puras necessidades: se criam simbologias para o estímulo, ás vezes contraditório, da nossa própria compulsão por comprar. Com ensina Moram, cria-se “um corpo complexo de normas, símbolos e imagens [...] derivadas da imprensa, do cinema, do rádio, da televisão [...] produzida segundo normas maciças da fabricação industrial (...) destinando-se a uma massa social, isto é, um aglomerado gigantesco de indivíduos compreendidos aquém e além das estruturas internas da sociedade”.
Com a dita cultura de massa, engolimos gamas cada vez mais elevadas de mensagens publicitarias que nos impelem, a todo instante, a comprar sem limites. É como se tivéssemos nossa intimidade invadida por projeções sedutoras que nos dizem a todo instante que a nossa posição dentro da sociedade se resume ao que conseguiremos adquirir amanhã. Ter sucesso é ter dinheiro para gastar, é estar com os aparelhos mais avançados, é andar na moda...
Vivemos, pois, numa ditadura velada em que o consumo é colocado acima de tudo. As indústrias não se preocupam em desmatar e poluir para fornecer mercadorias, nós mesmos preferimos o status de estar dentro de um carro sempre novo do que lutarmos por um transporte público de qualidade e menos agressivo para o planeta. Como diz o professor Lindomar Teixeira, “o que é importante – para o capital - não é erradicar aquilo que oprime, frustra ou causa sofrimento ao homem, mas sim aquilo que serve aos interesses do capital. Um exemplo: enquanto grandes grupos econômicos capitalistas estiverem ganhando com inúmeros impactos ambientais, estes não deixarão de existir por muito tempo. O que está em jogo é manutenção da lógica do capital que, como sabemos, favorece apenas uma minoria.”
Todos nós temos ciência da importância de se preservar o meio ambiente. Temos, inclusive, na ponta da língua toda aquela velha retórica do desenvolvimento sustentável. Alguns bradam aos sete ventos que defendem o planeta e são “conscientes”. Porém, basta uma mínima oportunidade e lá estamos nós lotando lojas e mais lojas:
Hoje, por exemplo, foi publicado pelo Estadão, dados que indicam que, devido às reduções de impostos promovidas pelo governo federal, o primeiro semestre de 2009 foi recordista em vendas de carros. Segundo a reportagem, “As vendas de veículos no mercado brasileiro somaram 300.157 unidades em junho deste ano, o que representa uma alta de 21,5% ante maio de 2009 e de 17,2% na comparação com junho de 2008. No acumulado do primeiro semestre deste ano, foram vendidos 1.449.787 veículos, equivalente a um acréscimo de 3% ante igual intervalo do ano passado. Os dados foram divulgados hoje pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e confirmam recorde histórico de vendas em junho e nos seis primeiros meses deste ano”.
Não é novidade para ninguém que este tipo de consumo exagerado é mais uma das facetas da nossa ância por ter. O comportamento consumista ainda é a maior barreira para que se tenha um verdadeiro desenvolvimento sustentável. Precisamos entender a nossa responsabilidade perante tudo isso. Temos que começar a cobrar soluções efetivas. Hoje é hipocrisia se afirmar que a sociedade está adotando uma postura ambientalmente correta perante ao planeta: “o brasileiro deseja ser rico antes mesmo de deixar de ser pobre. Deseja mais um carro para cada um do que educação para todas as crianças e saúde para todas as famílias. Prefere viadutos a saneamento. Criou-se na população um padrão de sonhos: alto consumo, em vez do atendimento das necessidades essenciais. Isto formou um imaginário que decide as eleições públicas, que orienta a economia e que na busca do aumento da riqueza, torna-se incapaz de reduzir a pobreza” (Citação: Cristovam Buarque – fonte: http://revistas.unoeste.br/revistas/ojs/index.php/ch/article/view/204)”.
Temos, então, uma sociedade vendada, vivendo a ilusão do consumo irresponsável e sem fronteiras. Uma sociedade onde até o gritante parece mudo...
Foto: http://www.elmanifiesto.com/articulos.asp?idarticulo=3091
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