sábado, 4 de julho de 2009

Ideias sobre documentários e cinema II

Na primeira parte do nosso ensaio sobre o cinema em seu gênero documentário, pudemos , de maneira inicial, conhecer a corrente cinematográfica protagonizada pelo diretor soviético Dziga Vertov. Como dissemos, Vertov encarava o filme documentário como a forma oposta dos filmes de ficção praticados em Hollywood. Nesse entendimento, Vertov e seus “seguidores” entendiam, que o olho da máquina era imparcial e que o filme deveria refletir a realidade como ela é, sem encenações ou criações dramáticas. Era a verdadeira encarnação do que se chamava de "cine-olho": a câmera fria captando a realidade, a "cine-escritura" do cotidiano sem intervenções da ficção ou da romantização que tanto pauta os filmes de Hollywood.

Mas, Como acontece com todas as formas de interpretação artística, a visão acima descrita evoluiu. O documentarista inglês Jonh Grierson, considerado um dos pais do documentarismo clássico, depois de tomar contato com as ideias soviéticas para o gênero de filmes documentais e de ter trabalhado com figuras como o cineasta Sergei Einsenstein, já achava que o cinema deveria promover a cidadania.
No entanto, ele ainda era herdeiro da vertente que “condenava o artificialismo das produções de Hollywood”. Grierson diferente de Vertov, não repudiava propriamente as técnicas de dramatização utilizadas no filme de ficção. Ele pregava apenas um pouco mais de compromisso dos filmes com a realidade social das pessoas.
Para ele, a câmera tinha que ser utilizada para registrar os meandros da vida como ela realmente se estruturava, e tinha que estar mais voltada para o mundo real onde o ator original e a cena original são aqueles que brotam naturalmente sem planejamentos ou encenações. Seria o cinema a “serviço do conhecimento” humano e social, onde a dramatização seria apenas um instrumento ou, mesmo, um artifício da construção linguística da obra.
Então, com esse rápido exemplo, já se percebe, a partir da visão de Grierson, que as formas de se ver e entender os filmes documentários começavam a sofrer uma modificação ou, mesmo, uma reestruturação na maneira artística de se compreender esta forma de documentação. Agora já se admitia a presença das encenações, das dramatizações nesse tipo de produção cinematográfica. Conseguia-se ver a presença da dramatização como um instrumento discursivo recorrente e quase natural dentro da linguagem da obra. Climas sombrios, atuações, engajamentos e roteiros mais subjetivos já apareciam em Grierson, coisa tida como grande pecado para alguns seguidores inveterados de Vertov.
Com a evolução da perspectiva, ficou mais fácil perceber que qualquer filme estava sob o julgo de um ou mais seres humanos. E que este mesmo filme nunca pode estar isento de mediações. Mediações que se concretizam nas opções estéticas do diretor ou mesmo no recorte empírico da cena a ser filmada. Começa-se a perceber os filmes como realmente são: como manipulações...

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