sexta-feira, 3 de julho de 2009

As lições de Talese

Qual a essência da escrita? O que buscamos quando nos refugiamos nas linhas do papel e quando nele nos recriamos? Essas perguntas, talvez, sejam os principais combustíveis para aqueles que se dedicam a exprimir o mundo pelas palavras, pelo ato de escrever. Jornalistas, poetas, músicos, todos eles buscam o cerne de um mundo que, basicamente, navega pela sua subjetividade, pela sua forma de encarar.

Buscando o improvável e trabalhando o indizível, muitos encontram nas palavras e na escrita seu último refúgio, seu grande alento. Contar histórias é uma arte fabulosa, uma recriação incontável de contornos fugidios de plataformas reformuláveis. Estamos imersos num universo de simbolismos, de mensagens ditas e recebidas. Somos, deveras, miúdos diante dos continentes da significação, mas somos, ao mesmo tempo, ousados: ousamos dizer, ousamos contar...

O século XX viu, com imensa admiração, a “criação” e o auge de grandes escritores: Falkner, Joyce, Saramago, García marques, Guimarães Rosa, Thomas Mann... Todos eles eram incríveis em seus mundos. Todos recriaram o entendimento que tínhamos acerca de questões que muitas vezes nos parecia trivial, mas que, no fundo, guardavam imensa beleza. Todos eles, com elevada sagacidade, eram indelevelmente dotados de uma grandiosa sensibilidade, um imenso olhar. Escrevendo, essas pessoas nos mostraram visões, nos revelaram nuances e a eles seremos muito gratos por isso.

Um infinito de talentos então se formou. Os grandes emprestaram seus para diferentes estilos de expressão pudesse nascer sob o nome da inovação. Nessa jornada de grandes nomes, nasceu também o Talento de Gay Talese. Considerado por muitos como o maior contador de histórias do século XX, Talese é uma lição, um manancial de descobertas: com seu estilo incomparável, ele criou o que se chama de “novo jornalismo”. Talese rompeu barreiras, destruiu as então infalíveis fórmulas do quadrado texto informativo da imprensa: dando prevalência, ao pequeno, ao despercebido, ele usou as ferramentas da reportagem para contar histórias de uma forma literária.

Quando jovem o velho mestre era tido como um rebelde. Ninguém gostava dos seus textos recheados de anônimos e de humanidade. Todos queriam a frieza e informação pura. Talese mostrou, porém, que a frieza da forma não poderia ser totalmente compatível com a vida intensa do conteúdo. O que ele fez foi justamente promover uma mistura onde a técnica e subjetividade se uniriam para expressar o que até então nossos olhos mortais deixavam passar pelo flanco.
Realmente, Talese criou o novo. E a novidade não foi apenas no jornalismo, foi também na nossa forma de ver, de encarar o que antes se escondia. Ele reinventou a importância do que deveria ser dito, noticiado, lido...

Gay Talese hoje é um ícone entre os escritores no mundo inteiro. E, esta semana, o escritor americano estará no Brasil. Convidado para participar da Festa Literária em Paraty no Rio de janeiro ele falará sobre o jornalismo, suas tendências e, óbvio, sobre a “vida de escritor”:





Quem sabe por, exatamente, dizer o que parece indizível, Talese seja o que é: um mestre contra as amarras da indústria de notícias pré-fabricadas. No entanto, o próprio Talese vê com preocupação com os rumos da profissão que ele intensamente mudou: o escritor não acredita no formato jornalístico da internet. Como vimos na reportagem acima, ele acha que o computador e internet são uma prisão e não a liberdade encarnada.

Para ele, muito mais importante é o contato, o sentimento direto que transborda da experiência e que inunda nossa percepção e interpretação. E, talvez, o velho mestre esteja certo: estamos nos isolando demais...

Foto: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Gay_Talese_by_David_Shankbone.jpg
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