Os "tranquilos mares" da fórmula 1

Isso tornou a F1 maçante, chata. Ninguém mais aguentava ver, em todas as corridas, um jogo de cartas marcadas, no qual a poderosa Ferrari era imbatível, inalcançável. Simplesmente a fórmula 1 começou a perder sua emoção: ultrapassagens (como a antológica manobra de Piquet contra Senna) e as disputas acirradas entre dois ou mais pilotos na categoria simplesmente desapareceram. Os treinos classificatórios eram inócuos, pois sempre a Ferrari e, em algumas vezes, a McLaren, estariam nas primeiras posições...
Tudo levava a crer que, na F1, o que determinava a vitória ou a derrota eram as capacidades financeiras e técnicas da equipe e do carro. O piloto, o fator humano, até poderia contribuir, mas, era (ou parecia ser) coadjuvante. Vendo isso, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) começou a se atentar para o “foco” de todo aquele tédio que se abria sob os pés da principal e mais rica categoria automobilística do mundo. Uma coisa, então, se tornou certa: não dava para deixar como estava!
Em 2008 a F1, finalmente, promove uma série de mudanças (confira todas elas aqui) em suas regras. Aboliu-se, por exemplo, o controle de tração do carro. Isso deu maior importância à atuação e influência do piloto. Mudaram-se, também, as regras para o treino classificatório e para a corrida, o que fez com que a antes chata confirmação de superioridade da Ferrari e da McLaren, se tornasse em uma “soma de fatores” mais interessantes. Tentou-se minimizar, então, os “desníveis” que haviam entre um equipamento e outro dentro da categoria... No final das contas, na temporada de 2008, a Fórmula 1 se apresentou com uma nova roupagem, e isso foi muito bom.
Como resultado, depois de anos sem emoção quase nenhuma, a F1 viu um campeonato espetacular: até última corrida, Lewis Hamilton e Felipe Massa, lembrando, até, os tempos de Prost e Senna, duelaram de igual para igual. E no último GP do ano (o do Brasil), Hamilton, para a tristeza dos brasileiros, se sagrou campeão com apenas um ponto de diferença para Massa. Naquele momento, muitos pensaram: a emoção renasceu.
No entanto, o monopólio da Ferrari e da McLaren continuava. Mais uma vez a FIA resolve mudar as regras do jogo. Só que desta vez ela coloca o dedo bem no centro da ferida: mexe na estrutura dos carros. Com o pretexto de facilitar as “ultrapassagens” a FIA então monta um carro dotado de um modelo completamente alterado. Para reduzir a diferença de tempo entre os carros e tornar, teoricamente, a categoria mais competitiva, foram implementadas as seguintes alterações:
1) A asa traseira ficou mais estreita, com 75 mm em vez de 150 mm e maior com 1800 mm em vez de 1400 mm.. Tendo apenas uma asa pequena para diminuir seu atrito e influência na corrente de ar.
2) A asa dianteira foi aumentada e ganhou ângulo de ataque ajustável pelo piloto, que apertará um botão no volante para regular a variação da asa (em até 6º no total). Porém essa operação o poderá ser realizada no máximo 2 vezes por volta;
3) Todos os aparatos e penduricalhos que se viam no ano de 2008 (defletores, chaminés, bigornas, orelhas de dumbo, orelhas de coelho, chifres) foram banidos;
4) Os Pneus Slicks passaram a ser novamente utilizados, após 12 anos fora da F1. O motivo era uma tentativa de suprir a perda de pressão aerodinâmica com maior aderência à pista.
5) os carros ganharam a possibilidade de se equipar com o polêmico sistema KERS, que basicamente consiste em recuperação de energia cinética para dar maior potência ao veículo através de um propulsor. (fonte: Blog F1-V8 e Oficina de dicas).
Em suma, muitas alterações foram implementadas para que a Fórmula 1 não tivesse mais um aspecto monopolista e anticompetitivo. Com carros alterados, se esperava um campeonato mais acirrado, brigado. No entanto, o tiro foi no pé. Ao invés de dar mais competitividade e, consequentemente, atrair mais espectadores e investimentos, a FIA criou mais um “privilégio exclusivo” nas corridas da categoria. A Brown GP (antiga Honda), agora é quem domina o sucesso na F1. Seu piloto Jason Button venceu nada mais nada menos que 6 corridas em sete disputadas. Sendo que em todas chegou ao pódio. Hoje o piloto inglês tem uma vantagem para a segundo colocado (Rubens Barrichelo, também da Brown) de 26 pontos.
Em outras palavras, mais uma vez a categoria ganhou aquele velho ar “schumacheriano” de jogo marcado. E, hoje, Button já está com o campeonato quase nas mãos. A categoria se tornou chata novamente, e a Brown GP atualmente faz o papel de uma nova Ferrari ou McLaren. Tudo isso faz com que o campeonato perca espectadores e investimentos. Tanto é que o dono dos direitos comerciais da F1, afirmou, conforme publicado na Folha Online, que o domínio da equipe Brown e de Button é “prejudicial” à categoria. "Obviamente é muito bom para ele, mas não é bom para o espetáculo e para o campeonato. Você gosta de ver a superestrela fazendo bem o seu trabalho, mas espero que haja um pouco mais de desafio para ele. Talvez chegue logo. Com dois abandonos, as coisas mudam", disse o dirigente.
O problema é que nada está levando a crer que Button tenha alguma dificuldade para se sagrar campeão em 2009. A Brown GP parece cada vez mais afinada para levar o campeonato, e Rubinho, o segundo piloto, parece não ter forças para duelar com o líder. Eu não apostaria em reviravoltas. Não no mar tranquilo do jogo chamado Fórmula 1...
Foto: alordelo
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