sábado, 27 de junho de 2009

Idéias sobre documentários e cinema I

O texto abaixo faz parte de uma reflexão encardida que eu teci acerca da sétima arte (cinema) e do seu gênero documentário, e que agora disponibilizo para vocês. Desde já peço desculpas por qualquer “rebuscamento” indevido ou por alguma eventual incongruência nessa interpretação livre que me arrisquei a fazer após algumas gratificantes leituras. Vejam:

Como "tocar" a arte?

Definir uma forma de arte ou enquadra-la em padrões conceituais pode ser muito mais complicado do que se pensa. É uma tarefa nebulosa e de contornos fugidios. É como querer tanger uma forma de existência humana dentro de suas incongruências e incertezas. A arte é um conteúdo expressivo que os homens formularam para se reformular em um permanente exercício egocêntrico. E é esse egocentrismo que dota de intensa fugacidade os conteúdos de uma representação.

É notável que a objetividade ainda se esconda atrás de uma espessa recriação que remonta os cenários naturais do planeta em uma gama de elementos textuais inteligíveis. E essas informações nada mais são do que intenções comunicativas e imagéticas eminentemente subjetivas. Trata-se de uma nova paisagem virtual e, quase metalingüística. Um espectro da realidade que se transmuta na própria visão ou interpretação humana, em aparições nas quais prepondera o caráter emancipador do ser social criado pela humanidade.

Então, o que poderíamos falar do cinema? De maneira bem geral, dir-se-ia que o cinema é mais uma representação criativa e artística dos universos humanos. É o enquadramento e a encenação do homem feita pelo e para o homem. Um exercício de autocontemplação. Definir o cinema pela rigidez e como querer segurar o vento ou mesmo prever pensamentos. A sétima arte existe em cada ser humano de maneira diferente. Ela se concretiza sob perspectivas diversas, uma vez que se conforma à partir de nossas habilidades inteligentes ou, mesmo, de nossa capacidade sensível perante as diversas situações imagéticas, sonoras e multicores que a experiência terrestre revela.

O documentário

O gênero documentário, por exemplo, é uma reformulação cinematográfica. E como tal, mesmo querendo tratar de fatos reais, tem seu lado lúdico, de ficção e ilusionismo. No texto “O documentário: um percurso conceitual” de Ana Carina Bartolomeu pode-se perceber o quanto um gênero cinematográfico pode, naturalmente, ser difícil de definir. As idéias que tentam abranger o conceito de documentário, também se desenvolveram sob a luz de perspectivas diversificadas. E isso se deu (e se dá), justamente, pelo fato de que as formas de arte elaboradas pelo homem estão calcadas sobre o espírito de contemplação e apreciação de si mesmas e do mundo que os rodeiam. Assim, obviamente, o que se tem é uma abertura de margens reveladoras das diferentes interpretações do que seria uma forma própria de apreciar esteticamente o mundo. É como se a humanidade quisesse enquadrar uma de suas várias opções subjetivas e relativas de encarar a beleza: o belo como “virtual objeto”.

Segundo Ana Carina, o pensamento conceitual acerca do documentário flutuou basicamente em torno de três linhas básicas de entendimento. A primeira corrente, protagonizada pelo diretor soviético Dziga Vertov, encarava o documentário como a forma oposta dos filmes de ficção praticados em Hollywood. Nesse pensamento, Vertov e seus “seguidores” entendiam, que o olho da máquina era imparcial e que o filme deveria refletir a realidade como ela é, sem encenações ou criações dramáticas. Pensava-se, então, que o chamado filme-drama, praticado pela indústria de Hollywood, encobria a percepção das pessoas e que seria quase que um vilão no processo de apreensão da realidade.

O lado ficcional das criações cinematográficas era desprezado. Para essa corrente de entendimento, apenas a realidade deveria nortear a concepção fílmica. A câmera (ou o cine-olho) era uma maquina de documentação, capaz de elaborar uma cine-escritura dos acontecimentos planetários. Era a grande protagonista do comprometimento do cinema com o “estudo do fenômeno da vida que nos cerca”. Uma vida factual, concreta e, para eles, “consideravelmente mais elevada que os ocasionalmente divertidos jogos de bonecas que as pessoas chamam de teatro, cinema, etc.”. No entanto, esse entendimento mudaria...

Foto: hidden shine
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