O poder da criatividade Common

O conceito de commons traduz de maneira intensa a essência da internet e da arquitetura libertária que compõe a rede: os commons pregam uma espécie de propriedade comum em “detrimento” do individualismo. O que habita a área comum da rede, por exemplo, e teoricamente, poderá ser acessado por todos os homens que tenham os recursos técnicos para tal.
O professor Sérgio Amadeu da Silveira, da Faculdade Cásper Líbero, em seu artigo “O conceito de commons na cibercultura”, escreve que “a idéia de commons como bem comum material, ao emergir, traz necessariamente a discussão sobre a escassez e sobre o comportamento individual baseado no homem egoísta, tão bem desenhado por Adam Smith na Riqueza das nações (Smith, 1996:74). Para ele “a idéia de commons como recurso ou bem imaterial, simbólico, faz surgir um novo contexto, desvinculado dos limites físicos da matéria. Conduz o debate para o cenário da abundância e para o campo fundamentalmente comunicacional”.
Esse campo comunicacional vasto é, justamente, o cerne do que se chama de democracia na comunicação. O acesso irrestrito ás mais diferentes obras intelectuais, artísticas e imateriais, sem ter a obrigação de pagar os altos custos de impostos e direitos, é uma verdadeira revolução de costumes. A internet, em suas potencialidades, trouxe no seu bojo a possibilidade do Acesso (com “a” maiúsculo mesmo): e esse Acesso foge aos controles burocráticos, desafiando, ao mesmo passo, a organização de diversos interesses capitalistas.
Parece até que estamos criando uma espécie de “novo discurso comunista”, mas a verdade é que a comunicação humana evoluiu para um novo patamar. Ainda na leitura do artigo do professor Sérgio, por exemplo, vemos que “no passado, existia alguém ou uma grande companhia controlando os fluxos vitais do processo de colaboração. Sem constatar o desaparecimento das hierarquias, os autores percebem mudanças profundas na natureza da tecnologia, da demografia e da economia que estão possibilitando o surgimento de modelos de produção baseados na comunidade, na colaboração e na auto-organização, com resultados melhores que nos modelos fundados na hierarquia e no controle”.
Em suma, a nova arquitetura de “ramificações livres” que está surgindo é, deveras, um golpe nas “pretensões lucrativas” das companhias que, até então, monopolizavam o nosso acesso aos bens simbólicos e artísticos. A famosa expressão “todos os direitos reservados” era (e ainda continua sendo, embora com menor intensidade) a grande “vilã” da Web: um bicho de sete cabeças que se digladiava a todo instante com a flexibilidade proposta pela Rede. Sorte que soluções criativas não pararam de aparecer nesse novo cenário que se desenhou para a nossa emancipação no terreno comunicacional. O Creative Commons (tradução literal: “criação comum”), por exemplo, nasceu no bojo da necessidade de mais flexibilização no acesso e de maior atenuação na aplicação das ditas ferramentas de controle e inibição do uso de obras intelectuais. Veja o vídeo:
Como pudemos prceber no vídeo, diferente do selo “todos os direitos reservados” (conhecido pela letra “c”) a licença Creative Commons (CC), portanto, se baseou na construção de uma “autorização prévia” dada pelos próprios criadores para o uso da sua obra veiculada na rede. Resumidamente, qualquer internauta poderia usar, com algumas restrições, o que estava disponibilizado na Web. A licença CC evitaria, pois, que você tivesse que pedir aquela difícil e massante autorização para utilizar algum conteúdo da internet. Tudo já estava resolvido. Fácil!
Segundo a Wikipédia e sua "plêiade" de autores anônimos:
“As licenças Creative Commons foram idealizadas para permitir a padronização de declarações de vontade no tocante ao licenciamento e distribuição de conteúdos culturais em geral (textos, músicas, imagens, filmes e outros), de modo a facilitar seu compartilhamento e recombinação, sob a égide de uma filosofia copyleft. As licenças criadas pela organização permitem que detentores de copyright (isto é, autores de conteúdos ou detentores de direitos sobre estes) possam abdicar em favor do público de alguns dos seus direitos inerentes às suas criações, ainda que retenham outros desses direitos. Isso pode ser operacionalizado por meio de um sortimento de módulos standard de licenças, que resultam em licenças prontas para serem agregadas aos conteúdos que se deseje licenciar. Os módulos oferecidos podem resultar em licenças que vão desde uma abdicação quase total, pelo licenciante, dos seus direitos patrimoniais, até opções mais restritivas, que vedam a possibilidade de criação de obras derivadas ou o uso comercial dos materiais licenciados”.
A licença CC, portanto, tem duas importantes funções na vida da internet: 1) criar um ambiente menos burocrático para a distribução de obras pela internet e, ao mesmo tempo, 2) proteger os autores contra o plágio, resguardando parte de seus direitos.
Hoje, quem produz conteúdos para a rede, com certeza verá as benesses e seguranças de se utilizar uma licença CC. E quem pensar no futuro, verá que a internet, desde a sua origem, é eminentemente LIVRE como na primeira idéia nascente do "poder common".
Foto: Mickipedia
1 Comentário:
Oi, Henrique!
26 de maio de 2009 às 10:11Parabéns pelo artigo e por trazer boas explicações sobre o termo. Acredito que isso deveria ser ensinado e difundido nas escolas de ensino médio, pois muitos alunos, ao entrarem na faculdade ou até no cotidiano, desconhecem essa forma de publicação.
Abraço
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