Vodu é pra Jacu?
Sempre tive curiosidade sobre o Vodu. Em muitas ocasiões, seja nas noíticias da imprensa, em desenhos animados ou, mesmo, em livros, deparei-me com sátiras à esta prática cultural que é bastante presente em muitos países no mundo, mas muito distante de nós brasileiros. Quem, por exemplo, não se lembra daquele velho epísódio do desenho animado “Pica Pau” em que o pássaro satiriza a prática do Vodu com a nada respeitosa frase “Vodu é pra jacu”?
Obviamente que para muitas pessoas este tipo de abordagem, acerca de uma prática cultural que nos é distante, acaba criando um forte tom preconceituso acerca de uma forma religiosa desconhecida. E quando falo em preconceito, refiro-me exatamente ao que o termo sugere: uma formação de conceitos e julgamentos precipitados e alimentados pela pura ignorância. Há pouco tempo, tivemos um exemplo claro desse preconceito: o cônsul do Haiti em São Paulo, George Samuel Antoine, foi flagrado dando uma declaração “em off” onde dizia que a tragédia haitiana era fruto de uma “maldição” realizada por alguns africanos que estão no país. Em suas palavras, o cônsul deu a entender que a tal “maldição” vinha da prática do que ele chamou de “macumba”. Ou seja, o Vodu.
Com a tragédia do Haiti, muita coisa daquele país apareceu. Tradições de um povo completamente abandonado foram desnudadas, expostas. Uma destas tradições foi, justamente, o Vodu. Com as informações que chegaram, muita gente daqui pode saber mais sobre o que antes era, simplesmente, discriminado. O portal G1, por exemplo, criou um texto explicando as origens da religião:
A religião existe antes mesmo da criação do país. Uma versão amplamente aceita da história da independência do Haiti, em 1804, conta que a revolta dos negros teve origem em um ritual de vodu.
"O vodu é central na história haitiana e atinge a maior parte da população", explica o antropólogo e professor do programa de pós-graduação em antropologia social da UFRJ Federico Neiburg. Segundo ele, a religião foi construída nas Américas por escravos, como o candomblé no Brasil, e mistura elementos de cultos africanos com o cristianismo. Há entidades que são associadas com santos, e datas festivas católicas que são celebradas pelos praticantes do vodu. "Junto com o vodu, surge uma língua, que é o crioulo, que também é uma mistura." Fonte: G1
Em outras palavras, o Vodu é uma pratica cultural e religiosa muito próxima das muitas que temos aqui no Brasil. Assim como o nosso Camdomblé, o Vodu é descriminado por ter raízes africanas em tempos onde ainda existe uma surpervalorização européia. O Haiti foi colonizado por franceses e, como nós, se apoiou durante muito tempo num regime escravocrata onde os negros eram a “escória” da sociedade. Ora, se era assim, nada mais natural do que o fato de, antigamente, as religiões e culturas negras serem discriminadas por quem gorvernava o país…
O que não dá para aceitar é que esse tipo de visão perdure até hoje. Muito das nossas desigualdades é fruto não de uma “maldição”, mas sim de entendimentos limitados nutridos por alguns acerca da diversidade humana.
É preciso que saibamos que o diferente existe e, enquanto não apredermos a conviver com ele, estaremos vulgarmente “convecidos” de que o qe não nos é, é “pra jacu”…
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