terça-feira, 25 de maio de 2010

Capitalismo. Será eterno?

Opressão-capitalismo

O que garante que o modo de organização e produção social vigente seja eterno? Será apenas porque a humanidade já presenciou formas diferentes de organização denominadas de “socialismo real” – Rússia, Leste Europeu, Cuba, queda do Muro de Berlin etc. –, sistemas considerados opressores e autoritários. Será isso suficiente para decretar o fim da potencialidade criativa humana? Será que nem o ideal de coletividade vivenciado naquelas experiências pode ser remontado? O que de ideologia capitalista houve na própria interpretação e crítica do “socialismo real”? Afinal, a crítica tinha que ser contundente, sob pena de deixar espaço para outras visões de mundo e reforçar outros modos de organização social, econômica, cultural e política. Na verdade, ainda existe essa capacidade de criação humana pairando pelas sociedades? Será que ela se mantém?

São inúmeras reflexões que podem ser feitas a esse respeito, seguindo essa linha de raciocínio, contudo, nossa intenção aqui é apenas questionar o próprio sistema capitalista, mesmo sem adentrar em suas formas constitutivas, em suas peculiaridades, mas partindo de uma compreensão ampla, de totalidade. Pois bem, por que um sistema de alguns séculos, no máximo quatro ou cinco, contando o período denominado de capitalismo comercial, das grandes navegações etc., um sistema tão novo se comparado à própria história da humanidade, é posto como um sistema permanente? O que de ideológico existe nisso? Será o capitalismo nossa forma de organização última? A mais adequada? Só porque muitos de nós nascemos nele ou, pelo menos, crescemos e tomamos consciência de nossa existência no mundo através dele, é suficiente para justificar sua eternidade? Nem ao menos pudemos vivenciar outras formas societais, pelo menos, no caso brasileiro, muito menos, num sentido mais amplo, global. E onde existiram outras formas (as do “socialismo real”), trataram-se, quase sempre, apenas de mudanças localizadas, que nem tiveram tempo e adequação para crescer e se expandir.

Nesse sentido, estas experiências no mundo foram suficientes para decretar a vitalidade e superioridade do capitalismo? Muitas vezes, é fácil defender esse sistema, quando não se está em trabalhos rotinizados, precários, com baixos rendimentos, ou mesmo, sem rendimento algum, desempregado, ou vivendo em situações limitadoras de vida. Quando se está por cima na lógica capitalista, fica fácil defender sua permanência e eternidade. Mesmo partindo da compreensão de que o capitalismo mantém sua base, seu pilar, inviolável – a saber, a exploração da força humana criativa e sua devida apropriação privada e restrita da riqueza, onde o par capital-trabalho se mantém firme, separando a sociedade entre grupos melhor inseridos do que outros, com classes sociais distintas, por mais que se misturem ou se mesclem, mas permanecem claramente demarcadas.

O espaço de vida, de relações sociais, de inserção cultural e política do trabalhador assalariado (formal, informal, contratado, terceirizado, funcionário) são bem demarcados e afastados dos que apenas se apropriam da riqueza produzida (grandes empresários, rentistas, donos do dinheiro etc.). São experiências sociais de vida diferenciadas, que sem dúvida implicam numa inserção diversa no mundo, que não é absolutamente restritiva, mas estrutura bastante o jogo da vida. Um sistema que se mantêm na matriz produtividade/lucro e expansão do consumo, fetichismo da mercadoria, além do seu substrato ideológico cultural, que alimenta a imagem de que todos/as são iguais, todos/as podem, mas desde que permaneçam consumindo e sendo individualistas em suas conquistas.

Onde o consumo do supérfluo é o cerne do negócio, coisas sem utilidade garantida, mas que possuem marcas de diferenciação, distinção social e status. É uma fantasmagórica combinação de produção coletiva do mundo (das coisas, da vida) e apropriação individualizada e segregada (restrita e seletiva). E a roda permanece girando, apesar da maciça destruição da natureza e da constante pobreza e exclusão social de povos, de nações, também dos ganhos e avanços do sistema. Pelo menos, hoje, “pós-baque” do neoliberalismo, não se veicula mais tão facilmente a ideia de que o capitalismo é a própria maravilha na Terra, a máxima realização humana, e, que todos/as serão beneficiados, inclusive, o continente Africano ou Latino.

Não queremos aqui negar avanços que se conseguiu com o capitalismo, descobertas, invenções, sofisticações, melhorias técnicas/científicas, o vasto desenvolvimento de equipamentos robóticos ou remédios, vacinas e outras criações. Não se quer apagar isso ou dizer que é tudo fruto de exploração do trabalho alheio ou do exercício da dominação de determinados grupos, da classe burguesa, do interesse econômico ou da lógica mais geral da relação social do capital – ainda que essa relação possa ser feita e defendida. Todavia, houve avanços e melhorias. Seria essa constatação suficiente para dar um estatuto de naturalidade ao capitalismo? Seria suficiente para garantir sua eternidade? Parece que não. E é para pôr isso em xeque, para descortinar algumas dessas questões, que lançamos aqui algumas palavras, ainda que sem força revolucionária, sem poder de mudança, sem força para abalar estruturas. Mesmo assim, são importantes de serem lançadas, sabendo do risco de serem consideradas meras palavras, vazias de sentido na vida diária/prática, ou, na melhor das hipóteses, que sejam percebidas, ainda que deixadas para crítica roedora dos ratos, como falava Karl Marx, nas idas do século XIX.

Almejamos apenas balançar as concepções e correntes que tomam (e tornam) o capitalismo como natural e contínuo. Como ele pode ter essa vitalidade e perenidade? Só se fosse um fenômeno natural, que sentíssemos e víssemos na experiência sensível como o sol, a chuva, a noite, o dia. De fato, estes sim são permanentes, pelo menos, por ora, enquanto a natureza resiste. Agora, um sistema de organização humana, mera criação, que permanece gerando desigualdades, explorando e destruindo recursos naturais, mais do que servindo às coletividades humanas, por que tenderia a ser eterno? Onde fica o poder criador e inventivo dos indivíduos, tão bem defendido pelo próprio ideário capitalista? Nunca foi tão difícil por em xeque esse sistema como no presente, no século XXI. Será que estamos fadados a mais do mesmo?

Bruno Durães

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1 Comentário:

Antônio de Freitas disse...

Fiquei quase dois meses sem conferir o trabalho dese site - comecei a dar aula pro Ensino Fundamental e me embananei todo - e quando volto a ler os textos me deparo com essa bela reflexão a cerca do futuro da nossa sociedade.
O que se percebe hoje é uma tentativa de maquiar os efeitos do capitalismo no mundo, efeitos estes que historicamente têm reflexos diretos na Humanidade. Os seres humanos não valem muita coisa se não estão com o controle de outros seres humanos e da natureza, usando isto em benefício próprio, é o que prega este sistema. E esta ideologia quer esconder que o social e a natureza não mais aguentam a exploração desenfreada que sofrem por mais de três séculos.
A condição em que vemos o mundo hoje nos faz pensar que "outro mundo é possível" - usandoi o jargão do Forum Social Mundial - e que este começa a partir da organização dos que estão descontentes e forma explorados historicamente. Por isso movimento de classes (operários, professores, negros, etc.) e socioambientais que não forem anti-imperialista e anti-capitalista (O PV de Gabeira e agora de Marina Silva, como exemplo), não mudam a nossa realidade.
Este movimento só será possível com a melhoria da educação (coisa que o Estado não fará)e/ou com a conscientixação de classe sabedora do póder luta, cabe àqueles - me coloque nesse bolo - dispostos a essa mudança começarem a agir.

12 de julho de 2010 às 16:21

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