segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Conservadores e o “medo” da educação.

conhecimento

Por que nossas elites têm tanto medo de uma população educada e bem instruída? Será que essas populações, quando bem formadas, podem de fato alterar os rumos de uma Nação? Acredita-se que sim, senão, não se menosprezaria tanto o ensino, a cultura e o saber. Tivemos vários exemplos de educadores que lutaram, por vezes, morreram na busca por melhores condições de educação para o conjunto da população. Apenas para citarmos dois, lembremos do baiano Anísio Teixeira (1900-1971) e seu projeto de Escola Integral (escola-parque) e do pernambucano Paulo Freire (1921-1997) que dizia que a educação tinha potencial libertador (de emancipação humana).

Pois bem, passaram-se anos, décadas, e estes e outros tantos educadores se foram e o ensino público neste país continua jogado ao ostracismo. Claro que atitudes pontuais sempre existem. Sempre haverá um caso bem sucedido, que pode facilmente ser usado em uma reportagem sensacionalista ou que apenas apresenta cenários positivos, onde um aspecto isolado se sobrepõe ao todo. Todavia, quando se fala de coletividades, o olhar tem que ser outro. Temos que ampliar o horizonte de análise, aumentar o campo de visão. Tentar apreender o máximo de possibilidades. Sim, estamos falando aqui da educação assentada no âmbito escolar.

Mas, claro que a educação é mais do que isso. Ela se desenvolve em casa, nas relações e interações sociais, na rua, no trabalho, no lazer, na comunidade, etc. Ou seja, a educação é muito mais que a Escola, é verdade, mas, porque as elites desse país têm medo de uma boa Escola Pública? Um caminho de resposta plausível para essa questão dá-se pelo fato delas manterem uma forte estrutura conservadora de pensamento e de prática de vida. Mesmo que se declarem “progressistas” e “liberais”, isso, no geral, apresenta-se apenas como um discurso vazio, descolado de suas práticas cotidianas. Basta ver como elas reagem diante de projetos que são criados para construção de uma boa formação educacional ou, pelo menos, para que se distribua melhor o acesso ao conhecimento. Afinal, é mais fácil governar e controlar uma população pouco instruída.

Citaremos dois casos emblemáticos e polêmicos: o programa nacional de reserva de vagas, “cotas”, que volta e meia é posto na vitrine, mas que, no fundo, é muito pouco ou quase nada debatido. Termina aparecendo algum “especialista” em alguma coisa e monopoliza a questão, com argumento de autoridade, sintetiza tudo dizendo que tal programa é anticonstitucional ou é “racista”, por restringir o acesso ou qualquer outra baboseira. O segundo caso, menos conhecido, trata-se da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) do MST. Uma escola praticamente auto-suficiente, com trabalho coletivo, horta comunitária, restaurante coletivo, biblioteca, auditórios, criação de animais, formação política, social, cultural e agrícola. Quer dizer, uma Escola exemplar, que, de fato, desenvolve a Educação no sentido ampliado do termo, mas que, vez ou outra, é criticada ferozmente pelas elites do país (e pelos seus meios de comunicação de massa).

Por fim, diante de uma rocha de valores arcaicos e retrógrados, cujo olhar está sempre voltado para os próprios umbigos, como poderemos falar em melhorias e mudanças sociais? Estarão essas elites dispostas a cederem espaços (físicos e simbólicos) para a massa pobre/trabalhadora? De outro lado, estarão dispostos a alimentarem o “inimigo”? Pois conhecimento, educação é poder, é libertador. E aí, eles irão correr esse risco? Pensem!

Bruno Durães

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4 Comentários:

Henrique Oliveira disse...

É justamente por libertar que a educação é rechaçada por aqueles que querem controle e desmando! O nosso país ainda é muito deficitário quando o assunto é educação! Nossa escolas públicas estão depredadas (falo com conhecimento de causa) e seguindo um modelo educacional que privilegia a quantidade de aprovados em detrimento da qualidade do ensino.
Professores mal preparados, alunos descompromissados, estrutura decadente... Essa é a realidade das nossas escolas públicas!
E alguém ainda acha que as elites se importam?

8 de fevereiro de 2010 às 09:32
Antônio de Freitas disse...

A educação é um meio para emancipação humana,logo, a elite nunca pensará em instruí a população. Relembro o debate no post "MST Político" no qual nos comentários fala-se sobre a necessidade de movimentos sociais no campo educacional. Entendo ser necessário uma Revolução Educacional que servirá como base para transformações político-ecônomico-sociais. Gramsci fala de algo parecido e deixo aqui a chamada - ou slogan - do jornal L'orndive Nuovo de 1919, do qual Gramsci era editor: "Instruí-vos, porque precisamos de vossa inteligência. Agitai-vos, porque precisamos de vosso entusiasmo. Organizai-vos, porque precisamos de força". Instrução como fonte pra transformação, por isso a elite faz sua conta-proposta, uma cara feia, até mesmo aos poucos e "mercadológicos" avanços na educação iniciados pelo governo Lula.

8 de fevereiro de 2010 às 12:59
Guilherme Freitas disse...

Acredito que se a educação pública fosse boa, o Brasil seria uma nação mais politizada e culta, capaz de debater e combater a corrupção que assola nosso país. Mas as elites (com apoio de alguns políticos e até grupos da mídia) não querem ver o progresso na classe mais pobre porque isso representa o fim da dominação dessa classe sobre as demais. É uma batalha dura, que só vai mudar quando as autoridades começarem a olhar com mais atenção para a educação. Abraço.

8 de fevereiro de 2010 às 22:38
Bruno José disse...

pois bem camaradas,

penso que um caminho razoável para nosso país seria uma Revolução na Educação, todavia, isso é tão abstrato, que não sei no que acreditar. Claro que, acredito ainda nas ações e movimentos coletivos...Mas, o que esperar dos governantess? Será que podemos acreditar em mudanças que venham do alto, de cima para baixo?

Ah, valeu Antônio pôr trazer o outro Antônio (o Gramsci) para nosso debate. Lembro-me deste teórico marxista e de seus escritos sobre "práxis", e, principalmente, sobre a ruptura com o "senso comum" para realizações de ações pautadas no "senso crítico" [que ele chamava de "Bom Senso" da classe trabalhadora] e em posturas politizadas...Brilhante! Ele é, sem sombra de dúvidas, um dos grandes marxistas do século XX, pena que morreu tão cedo.

saudações, Bruno.

9 de fevereiro de 2010 às 14:26

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