sábado, 30 de janeiro de 2010

“Uma lei implacável”

lei cega 
Estava eu pensando sobre o que iria escrever hoje para Incomode-se quando, por sorte, me deparei com esse ótimo texto do poeta baiano Celismando Sodré. Vejam (vale a pena!):
A primeira vez que ovi esta expressão foi num jogo de baralho, onde estavam jogando meus colegas e amigos: Simão de Deta e Roque Primo (Roque de Clélia). Eles disputavam um jogo de buraco e quando a partida parecia irreversível para um dos parceiros; quando a vitória já estava a caminho, aquele que estava preste a vencer falava bem alto para “encher o saco” do perdedor:

Homem é homem
Menino é menino
Fumo é fumo
E vara é vara!
Eu só sei que a gozação pegou. E todos nós, que gostávamos de jogar baralho, passamos a utilizar a expressão para irritar o adversário.

Acontece que a pirraça se estendeu para outros campos de disputa, inclusive para a própria vida. Se nosso time de futebol perdia, se um dos colegas que faziam parte da brincadeira levasse uma “topada”, se fizesse uma besteira, e, até, diante de situações trágicas como a própria morte, nas quais sentíamos a nossa impotência diante do que não pode ser mudado, falávamos: “Não tem jeito. Fumo é fumo e vara é vara”.

Passou a ser uma regra lógica e incontestável. Quem pode mudar o que já aconteceu? Ninguém. O que podemos fazer é tentar refletir sobre os erros que já foram cometidos para não cometermos mais.

Nas últimas eleições, no final de um discurso feito por mim, num tom de brincadeira e diante de uma situação onde a maioria dos eleitores já tinham decidido em quem votar, resolvi encerrar com a tal frase: “Não tem jeito. Fumo é fumo e vara é vara”. O que tiver de ser será. Verdade esta que tanto poderia servir para um lado político quanto para outro.

Os candidatos nos quais eu votei não se elegeram. Muitos colegas (e até desconhecidos) faziam brincadeira comigo pronunciando a tal frase. A grande maioria entendeu a brincadeira, mas algumas pessoas pensaram que eu tinha dito uma indecência. Até na política este provérbio pode ser utilizado. Quando o eleitor vende seu voto como mercadoria, não usa critérios decentes para escolher alguém para votar, só pensa no benefício individual, desprezando o coletivo; quando vem as consequências como: salários atrasados, hospitais sem médicos, cidade sem desenvolvimento, roubo do dinheiro público… Não tem jeito: “fumo é fumo e vara é vara”! A máxima vale, também, para esses eleitores irresponsáveis que fazem de uma eleição um jogo de brincadeira.

Gostaria de afirmar que tal frase significa apenas que somos responsáveis por nossos atos. Segundo o filósofo Sartre: “somos condenados e ser livres”. Com a nossa liberdade, fizemos muito mal à natureza e agora estamos pagando o preço. É a lei da ação e da reação. Em certos momentos da vida, os seres humanos se tornam impotentes diante da realidade. veja a morte, por exemplo!

Como disse o grande filósofo Adão G, diante de um enterro com milhares de pessoas: “Tá vendo aquela multidão que acompanha o caixão do defunto? Não tem jeito. Não escapa um.”. Eu completo a frase de Adão, com a consciência de que Deus sabe o que faz, acrescentando essa outra expressão: Fumo é fumo e vara é vara!

Celismando Sodré

Então, caros leitores, o que precismos é endossar o nosso senso crítico e nossa vontade de mudar a realidade que nos cerca. Só assim evitaremos as consequências inevitáveis dessa verdadeira “lei implacável”…
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3 Comentários:

gibranduraes disse...

Grande Celismando, grande poeta Barramendense.
Fui muito feliz em ter sido aluno desse grande mestre!

30 de janeiro de 2010 às 13:52
Henrique Oliveira disse...

Todos os que tiveram oportunidade de conhecer os textos e as ideias de Celismando, são admiradores da sua corajosa obra! Não me canso de dar parabéns a ele!

30 de janeiro de 2010 às 13:58
Bruno José disse...

De fato,

a liberdade tem disso: escolhas que podemos fazer, mesmo diante de certezas invioláveis...

tive a honra de conversar com o poeta Celismando várias vezes em debates sociais em Barra do Mendes, um grande pensador e crítico...

Saudações.

31 de janeiro de 2010 às 09:13

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