segunda-feira, 22 de junho de 2009

A andança de Pedro, o pagador de promessas

Por volta dos 60 anos, um senhor de nome Pedro Guedes da Costa, ou simplesmente “Seu Pedro” foi acometido por uma trombose no pé esquerdo. Depois de muitos remédios e já quase sem poder andar, o senhor recorre á única coisa que nunca lhe faltou (a fé) e faz uma promessa: “seu me curar dessa doença, carregarei uma cruz da minha casa até o Santuário do Divino Pai Eterno, em Goiás...”

Com muita esperança e fé, Seu Pedro diz ter esperado a “intervenção divina”. Milagrosamente a trombose foi cedendo e Seu Pedro melhorando cada vez mais. Os dias se sucederam e ele ficava melhor. Até que, um dia, se viu completamente curado e sem mais nenhum sintoma. Para seu Pedro, então, havia ocorrido o milagre: Deus havia lhe atendido aos pedidos. Agora era sua vez: a cruz seria carregada, numa longa e debilitante peregrinação.

Partindo de Caruaru, sua terra natal, e carregando uma cruz de 50 quilos que ele mesmo fez, Seu Pedro rumou, desde o dia 22 de dezembro de 2007, há quase um ano e seis meses, para o santuário católico localizado na cidade de Trindade, interior do Estado de Goiás. Desde então, por todos os cantos que passou, o andarilho atraiu a atenção curiosa de inúmeros populares. No seu trajeto, Seu Pedro faz questão de rezar e entoar cânticos religiosos junto ao povo das cidades aonde é acolhido. E boa recepção não falta: por todos os cantos que passa “o homem da cruz”, como é comumente chamado, é tratado com muita reverencia e respeito: como disse um senhor ao apertar com firmeza a mão do pagador de promessas: Seu Pedro merece muito respeito, é “um homem de muita fé”.

Conforme publicado numa reportagem do jornal “O povo” (texto este que seu Pedro faz questão de guardar e mostrar às pessoas), no começo da viagem, Seu Pedro tinha apenas R$ 200. “O dinheiro acabou em alguns dias. ‘Conto com a ajuda de todo mundo. Até os fora-da-lei já me ajudaram. Os policiais também e os evangélicos. Sou católico’, prossegue. ‘Certa vez, eu caí no meio da estrada, com fome. Deus colocou um rapaz no meu caminho, que me deu comida e um trocado’, lembra. Durante o percurso, seu Pedro ganha comida, água e trocados. Às vezes, um lugar para tomar banho. O romeiro, com a ajuda que recebe, também compra cartões telefônicos para falar com a família”.

Seu Pedro traz no rosto as marcas do povo do sertão: é um senhor de 62 anos separado e pai de dois filhos. Já trabalhou em tantas coisas que nem mesmo ele sabe relembrar ao certo. Teve uma doença grave e, pobre, pouco auxílio médico conseguiu. È um homem que, como muitos brasileiros, tem na fé uma das suas principais âncoras e alentos. Em nome dessa fé seu Pedro se sente forte para atravessar todo um sertão de privações. Sem dinheiro e com duas ou três peças de roupa, Seu Pedro continua sua caminhada dependendo da caridade dos desconhecidos. No entanto, em nenhum momento demonstra desânimo: “o importante é que eu pague a minha promessa”, diz.

No último domingo eu tive prazer de testemunhar uma pequena parte da penitencia de seu Pedro: ele esteve em Barra do Mendes, cidade onde nasci e que fica no sertão baiano, e lá cantou e rezou junto ao povo: Dona preta, uma senhora de 95 anos de idade, que faz absoluta questão de ela mesma “fazer a feira” para sua casa todas as semanas, se juntou á força da fé de seu Pedro e com impressionantes memória e firmeza de voz conduziu, de maneira emocionante, a reza por alguns minutos. Vejam:




A fé popular como se pôde perceber, vai muito mais além do que uma mera reprodução de cânticos e ladainhas. Para o povo, a crença religiosa traz muito mais do que apenas um tradição, ou costume. Traz o retrato do único alento que muitos abandonados nesse país ainda têm: a fé. É com fé que pessoas pobres como seu Pedro e Dona preta levam a vida. É ali que encontram muito das suas forças e das suas motivações.

Num país onde o povo sobrevive esquecido, a crença popular ajuda a carregar muito mais cruzes do que imaginamos. A vida do sertanejo é uma eterna penitência, uma infindável luta. E isso é que torna a cultura popular tão forte e bela.

Seu Pedro carrega nas costas a representação de muitos dos nossos estigmas sociais. Pobre, sem estudo, sem trabalho, o homem de 62 anos, depois da sua longa caminhada, procura um descanso. Para isso, antes de terminar o seu trajeto (que, segundo ele, deve ir até o final deste ano), pretende falar cara a cara com o presidente Lula: “vou pedir minha aposentadoria, porque acho que já mereço...”, conta.

Até lá, Seu Pedro vai se sustentando pela fé. Caminhando e dependendo da caridade de outros pobres como ele, ele segue representando as marcas de um povo sofrido, mas de muita força...
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