A andança de Pedro, o pagador de promessas
Com muita esperança e fé, Seu Pedro diz ter esperado a “intervenção divina”. Milagrosamente a trombose foi cedendo e Seu Pedro melhorando cada vez mais. Os dias se sucederam e ele ficava melhor. Até que, um dia, se viu completamente curado e sem mais nenhum sintoma. Para seu Pedro, então, havia ocorrido o milagre: Deus havia lhe atendido aos pedidos. Agora era sua vez: a cruz seria carregada, numa longa e debilitante peregrinação.
Partindo de Caruaru, sua terra natal, e carregando uma cruz de 50 quilos que ele mesmo fez, Seu Pedro rumou, desde o dia 22 de dezembro de 2007, há quase um ano e seis meses, para o santuário católico localizado na cidade de Trindade, interior do Estado de Goiás. Desde então, por todos os cantos que passou, o andarilho atraiu a atenção curiosa de inúmeros populares. No seu trajeto, Seu Pedro faz questão de rezar e entoar cânticos religiosos junto ao povo das cidades aonde é acolhido. E boa recepção não falta: por todos os cantos que passa “o homem da cruz”, como é comumente chamado, é tratado com muita reverencia e respeito: como disse um senhor ao apertar com firmeza a mão do pagador de promessas: Seu Pedro merece muito respeito, é “um homem de muita fé”.
Conforme publicado numa reportagem do jornal “O povo” (texto este que seu Pedro faz questão de guardar e mostrar às pessoas), no começo da viagem, Seu Pedro tinha apenas R$ 200. “O dinheiro acabou em alguns dias. ‘Conto com a ajuda de todo mundo. Até os fora-da-lei já me ajudaram. Os policiais também e os evangélicos. Sou católico’, prossegue. ‘Certa vez, eu caí no meio da estrada, com fome. Deus colocou um rapaz no meu caminho, que me deu comida e um trocado’, lembra. Durante o percurso, seu Pedro ganha comida, água e trocados. Às vezes, um lugar para tomar banho. O romeiro, com a ajuda que recebe, também compra cartões telefônicos para falar com a família”.
Seu Pedro traz no rosto as marcas do povo do sertão: é um senhor de 62 anos separado e pai de dois filhos. Já trabalhou em tantas coisas que nem mesmo ele sabe relembrar ao certo. Teve uma doença grave e, pobre, pouco auxílio médico conseguiu. È um homem que, como muitos brasileiros, tem na fé uma das suas principais âncoras e alentos. Em nome dessa fé seu Pedro se sente forte para atravessar todo um sertão de privações. Sem dinheiro e com duas ou três peças de roupa, Seu Pedro continua sua caminhada dependendo da caridade dos desconhecidos. No entanto, em nenhum momento demonstra desânimo: “o importante é que eu pague a minha promessa”, diz.
No último domingo eu tive prazer de testemunhar uma pequena parte da penitencia de seu Pedro: ele esteve em Barra do Mendes, cidade onde nasci e que fica no sertão baiano, e lá cantou e rezou junto ao povo: Dona preta, uma senhora de 95 anos de idade, que faz absoluta questão de ela mesma “fazer a feira” para sua casa todas as semanas, se juntou á força da fé de seu Pedro e com impressionantes memória e firmeza de voz conduziu, de maneira emocionante, a reza por alguns minutos. Vejam:
A fé popular como se pôde perceber, vai muito mais além do que uma mera reprodução de cânticos e ladainhas. Para o povo, a crença religiosa traz muito mais do que apenas um tradição, ou costume. Traz o retrato do único alento que muitos abandonados nesse país ainda têm: a fé. É com fé que pessoas pobres como seu Pedro e Dona preta levam a vida. É ali que encontram muito das suas forças e das suas motivações.
Num país onde o povo sobrevive esquecido, a crença popular ajuda a carregar muito mais cruzes do que imaginamos. A vida do sertanejo é uma eterna penitência, uma infindável luta. E isso é que torna a cultura popular tão forte e bela.
Seu Pedro carrega nas costas a representação de muitos dos nossos estigmas sociais. Pobre, sem estudo, sem trabalho, o homem de 62 anos, depois da sua longa caminhada, procura um descanso. Para isso, antes de terminar o seu trajeto (que, segundo ele, deve ir até o final deste ano), pretende falar cara a cara com o presidente Lula: “vou pedir minha aposentadoria, porque acho que já mereço...”, conta.
Até lá, Seu Pedro vai se sustentando pela fé. Caminhando e dependendo da caridade de outros pobres como ele, ele segue representando as marcas de um povo sofrido, mas de muita força...
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