quinta-feira, 14 de maio de 2009

Caminhos da América Latina

É notável o crescimento da importância política, econômica e histórica da América Latina. Muitas grandes potências que, no passado, pouco davam importância às decisões políticas que eram tomadas por aqui, agora têm olhos e ouvidos bem abertos para os rumos quem vem norteando as lideranças governistas e populares (populistas?) latino-americanas.

O petróleo, um pretenso esquerdismo, populismo, apego ao poder... Todos esses “motivos” permeiam as análises envolvendo a nossa região global. Mas, nenhuma está assumindo tanta relevância nos últimos tempos como a ainda hipotética formação do dito “grupo do terceiro mandato”. Segundo críticos, o bloco político em gestação na América Latina está se apoiando num verdadeiro projeto de perpetuação no poder através do populismo e de plebiscitos manipuladores.

Venezuela e Equador já aprovaram seus projetos presidenciais de permanência no poder por um terceiro mandato. Agora, segundo publicado na revista Istoé desta semana, é a vez da base governista da Colômbia propor ao Senado “um projeto de referendo que pode mudar a constituição do país, permitindo que Uribe [Álvaro] se candidate à Presidência pela terceira vez consecutiva”.

Muitos dizem que Hugo Chávez, Rafael Correa, Uribe e, lá adiante, Evo Morales, engatilham a passos largos um projeto de perpetuação no poder para formar um “bloco político” de oposição ao comando estadunidense e global. No Brasil, a possibilidade do terceiro mandato do presidente Lula ainda não está totalmente afastada. Caso o PT não consiga engrenar uma candidatura competitiva (e Dilma é uma candidata difícil), o presidente pode, sim, desengavetar seu projeto de continuidade no planalto.

Todo esse movimento político faz com que a América Latina seja foco de atenções especiais. A formação desse grupo de grandes chefes populistas “permanentes”, faz com que analistas foquem suas atenções na formação de um novo bloco de governo: o “bloco do terceiro mandato”. Para o sociólogo Rudá Rucci, três são as principais teorias que atualmente se aplicam ao diálogo acerca dessa situação:

1) Democracia ou reeleição?

“Esta tese quase sempre sustenta o debate que forjou a concepção eleitoral dos EUA. [...].O argumento central é a importância do contrapeso na democracia, tese próxima à dos anti-federalistas, e a ilustração da recusa de [Thomas] Jefferson em assumir um terceiro mandato, em 1809. Jefferson afirmava que reeleição ilimitada equivaleria à vitaliciedade. Por outro lado, Franklin Roosevelt se reelegeu quatro vezes, tendo como mote a crise social e a guerra mundial. Mas este parece ser o argumento forte: mesmo que a população deseje, seria adequada a permanência de uma mesma pessoa no poder, por vários mandatos consecutivos? Mesmo pelo voto, reeleições sucessivas aproximariam o mandatário de um poder vitalício? O voto, neste caso específico, não constituiria uma mera sugestão plebiscitária, renegando a delegação de poder e se resumindo à adesão?”

2) Plebiscito ou democracia?

Tese defendida no país pela analista Lúcia Hypólito, e no mundo por diversos pensadores, esse entendimento “sugere certa distância entre democracia e plebiscito. Esta sempre foi a tese das forças conservadoras do nosso país. Desde o Partido Conservador. Em síntese, as massas são sempre irracionais e apaixonadas. Le Bon e até Freud defenderam tese similar. Freud sugeria que as massas mobilizadas nas ruas agiriam como crianças à procura de um pai, desesperadas pela ordem e logo o pai surgiria: o líder carismático. Tese, aliás, desenvolvida pelo marxista-freudiano austríaco, Wilhelm Reich, para analisar o que teria sido a psicologia de massas do fascismo”.

3) Conspiração esquerdista na América Latina

Segudo esta teoria, “estaria em curso uma articulação esquerdista que envolveria Chávez, Evo Morales, Fidel Castro [agora nos bastidores] e Rafael Correa, seguidos à distância por Lula. Chávez, pelo poder que o petróleo lhe confere, radicalizaria seu discurso para pressionar os governantes menos esquerdistas da América Latina a se posicionarem num único bloco, anti-EUA e pró-América Latina. Uma tese sem fundamentos concretos, embora os eleitores latino-americanos estejam efetivamente mais próximos dos candidatos à esquerda”.

Teorias e mais teorias surgem para explicar o “fenômeno” do terceiro mandato na América Latina. Muitos apostam nas paixões políticas para embasar suas análises, mas, o fato é que a nossa região global vem protagonizando um momento político bem característico. É preciso que nós estejamos conscientes desse projeto de poder para que, quando for necessário, saibamos nos posicionar sem passividade. Não existem “deuses-governantes”. O Populismo é uma ilusão atrativa. Por isso, temos que fincar nossos pés no chão para, efetivamente, escolhermos o melhor para o nosso povo e país.


Foto: AHLAM
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