segunda-feira, 1 de março de 2010

Rebolation: “a nova sensação...”

Rebolation Sim, vamos falar do hit do momento, porque não? Já que está tão difundido na Sociedade, como poderíamos deixá-lo de fora? Claro que se trata de imediato de mais um sucesso modista da indústria cultural baiana, de nítido interesse econômico/comercial, mas será apenas isso? Essa é uma pergunta de fôlego, sem dúvida, e que merece indagações também de fôlego, para assim, tentar atingir, nem que seja superficialmente, o alvo, no caso, o cerne do debate.

De início, é importante se precaver e usar uma ressalva sociológica: tomar o fenômeno, como diria Karl Marx, como uma “síntese de múltiplas determinações”, um complexo social. Também, tem-se que levar em consideração outra ressalva, um complemento, difundido pelo sociólogo contemporâneo Pierre Bourdieu, tratar o fenômeno com um olhar “relacional”, observar as múltiplas dimensões possíveis de um objeto estudado.

Pois bem, foram dados os primeiros delineamentos do assunto que iremos considerar, as primeiras aproximações, agora, vamos adentrar um pouco mais.

Este é um tema que deve ser tratado de modo multidimensional. Tem que passar por olhares diversos e não ficar restrito a uma ou outra interpretação. Não se pode dar conta do assunto apenas pela via econômica, também não é suficiente apenas a via cultural/simbólica. É certo que muitas pessoas adoram esse hit. Isso é um fato. Apesar de ter claramente uma letra pouco elaborada, curta por demais e bastante vazia de sentido, convocando apenas as pessoas para o Rebolation (para dançarem), como diz: “Menino e menina não fiquem de fora que vai começar (...)”, e continua, “O suingue é bom gostoso demais, mulheres na frente e os homens atrás”. Vejam:

É evidente que a música sempre traz implicitamente uma conotação sexual. Mas, nesse caso, ficou até bastante suave, diria até discreta. O ritmo da música se encarrega de fazer o resto. Vale esclarecer que não iremos aqui avaliar os arranjos ou técnicas musicais utilizadas, mesmo porque, não as domino. Mas, todavia, podemos afirmar: representa a manifestação de pessoas. Possui um quê de realização naquele ritmo e na letra, uma musicalidade e coreografia que está para além do mero interesse econômico e para além da influência de renomados artistas, cantores, músicos, apresentadores, meios de comunicação de massa etc. Pode-se sim afirmar que ali também está inscrito elementos de identidades, de pertencimento, de identificação de diversos grupos sociais, não apenas restritos a essa ou aquela situação econômica, classe social. Consegue-se, por vezes, atingir a sociedade de modo transversal.

Portanto, tendo a achar que existem os dois lados nesse fenômeno, um que decorre de manifestações culturais das pessoas, da sociedade, que evidenciam sentimentos, desejos, sensualidades, sexualidade, vontades, gostos, prazeres etc., outro, representa processos de consumismo desenfreado e falta de individualidades consolidadas, que pudessem resistir às ondas de consumo, aos modismos do sistema capitalista, que sempre tendem a exacerbar determinado aspecto do fenômeno apenas para ter uma maior aceitação mercadológica.

É, pois, em linhas gerais, um hit que tem que ser interpretado sob diferentes olhares e com perspectivas abertas, para que assim não caia num beco teórico que nada traz de novo, exceto prisões interpretativas e doutrinárias, em que, quase sempre, terminam caindo num vazio conceitual, além do pré-conceito, que é bastante comum. Logo, muito rebolation para todo mundo, mas fiquem espertos! Isso pode ser apenas uma potente faceta de estímulo e apelo ao consumo, uma mercadoria consumida em shows, festas, cd´s, internet, televisão etc. Procuremos sempre ver os diversos lados ou aspectos das coisas, ainda que estejam ocultos, escondidos.

Bruno Durães

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6 Comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Henrique Oliveira disse...

Ok Cara,
é preciso que adentremos nas interpretações que nos revelam aspectos que,por nossas próprias "opções" e hábitos, renegamos a todo custo.
O fenômeno do "rebolation" e de outras manifestações do nosso cotidiano podem ser bastante úteis para entendermos o mar de frivolidades que nos é imposto e que, muitas vezes, engolimos sem, sequer, adotar uma dose mínima de senso crítico...

1 de março de 2010 às 17:03
Bruno José disse...

de fato,

quase sempre as pessoas são levadas na onda...mas, tem muito de identificação nesses movimentos também. As pessoas se identificam também; é uma questão ambígua.

Desculpem pela brevidade desse texto. Não domino muito esse tipo de assunto, todavia, temos que arriscar em novos campos. É preciso sair um pouco da fragmentação do conhecimento que nos é imposta e vivenciada.

até.

1 de março de 2010 às 20:27
gibranduraes disse...

Texto corajoso Bruno, na verdade eu sempre achei outras óticas em torno das manifestações da cultura de massa. Muitas vezes não acho que somos impostos e sim nos deixamos levar pelo ritmo, coisa que desde a era primitiva já se era feita. Nós, principalmente os baianos, temos o suingue dentro de nós e isso talvez seja inconciente.
Abraços

1 de março de 2010 às 21:06
Bruno José disse...

Será Giba que existe mesmo essa coisa de "inconciente"?

Mas, sem dúvida, temos elementos culturais passados por gerações e revivenciados que, certamente, exercem influência em nós. É um fato.

abraço, Bruno.

2 de março de 2010 às 16:44
sinistro e sem alma disse...

Depois de eguinha pocotó e boquinha da garrafa, meus ouvidos se sujeitam a tudo...

2 de março de 2010 às 18:38

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