segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A Sociedade funcional de Durkheim

Cidade Esse é o texto inaugural de nossa coluna, que pretende ser semanal, no “Incomode-se”. Optamos por dar a tacada inicial, tratando da própria existência da coluna. Primeiro, cabe indagar: terá utilidade? E, segundo, conseguirá sobreviver às críticas ferozes? Não colocaremos respostas aqui, mesmo porque, no momento, ou serão pretensiosas em demasia ou descabidas, haja vista, que nem se sabe quem irá ler, muito menos, se haverão comentadores. De todo modo, correremos os riscos e pretendemos alçar nossos voos. Mesmo porque, uma coisa anda em extinção em grande parte de nossa sociedade, aqui num sentido mais genérico possível, as reflexões criativas e críticas. Acostumamos, sobretudo, a repetir, omitir e, muitas vezes, abster-se diante de fatos, realidades e situações. Aqui, tentaremos manter, pelo menos, criatividade e reflexões críticas.

Mas, o que é a sociedade, afinal? Será ela qualquer coisa de social, de coletiva? Um mero agrupamento humano ou, também, animal? Para iluminar um pouco desse debate, traremos em cena o ilustre Sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917), ainda que para apresentar noções bem gerais. A sociedade, para este autor, seria o resultado de agrupamentos humanos, mas que também podem ser de animais, ou seja, não é algo estritamente humano. Todavia, envolve níveis de complexidade e evolução social diferenciados. Assim, a sociedade humana é sim diferente e superior aos aglomerados de animais.

No nosso caso, estaremos sempre tratando, pelo menos, aparentemente, das sociedades humanas. Digo aparentemente, pois diversas vezes ocorrem fatos e situações mais condizentes com bichos irracionais do que com seres dotados de racionalidade, basta lembrar a devastação à natureza ou crimes horrendos. A Sociedade, em Durkheim, é uma totalidade superior às partes integrantes, superior a soma dos agregados individuais. Ela é comparada a um organismo sempre em ótimo funcionamento dos órgãos, formando uma realidade peculiar, sui generis. Constitui, sobremaneira, conjuntos de situações coletivas, dotando os indivíduos de regras, normas e práticas comuns, formadoras de deveres a serem seguidos, compondo uma moral. São essas regras e normas que mantém a estrutura social em harmonia, com suas partes em perfeita funcionalidade, para tanto, se valem de sanções punitivas ou restitutivas, dependendo do crime cometido. Não há sociedade que não tenha sua moral, afirma Durkheim, mesmo as tribais, antigas, “primitivas”. Claro que, a própria sociedade só é possível devido à junção dos indivíduos, em convívio, compartilhando situações, saberes, crenças. Isso faz parte de uma realidade essencial para a própria existência humana. Só pode haver a existência de seres humanos em sociedade, porque estes são, por extensão, seres sociais. Esta é uma máxima do autor – conceber a própria existência dos humanos atrelada a convívios coletivos, sociais – conformando uma lei social, racional. Por fim, a sociedade seria uma “obra de justiça”, justamente por conter a liberdade total individual, sobretudo, para as sociedades industriais/modernas, onde as individualidades são mais afloradas.

De resto, vale dizer que a sociedade vai se movendo pelas próprias relações humanas, por interações sociais. Isso termina por consolidar algo bastante complexo e diversificado, o que não nos permite resumir seu significado em poucas palavras. Pode-se finalizar dizendo que existem interpretações diversas para a sociedade (de diversos autores) e não existe uma única identidade social envolvida. Aliás, devido ao fato dela ser assim, complexa, sempre surgem novos estudos, novas pesquisas, e, todo dia, aparecem pessoas e grupos tentando desvendar seus segredos, seja de uma sociedade de amigos, de bairro, religiosa, política ou a própria sociedade em geral. Temos a certeza de uma coisa: é tudo social e está tudo em movimento, compondo dinâmicas sociais, apesar dos elementos estáticos garantidos, principalmente, pelas tradições e costumes.

Bruno Durães

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7 Comentários:

Henrique Oliveira disse...

A sociedade, com toda a sua complexidade, é fascinante! E descobri-la em seus meandros, um dos nossos grandes desafios!

Parabéns pelo artigo cara! Muito legal.

2 de fevereiro de 2010 às 11:17
Bruno José disse...

Pois é camarada, muitos tentaram e tantos outros tentam compreendê-la...O certo é que não existe uma fórmula geral de entendimento do social, mas, sem dúvida, pode-se a cada dia construir mais conhecimentos dos complexos sociais, mesmo que eles estejam sempre em constantes mudanças...

Vale dizer que as sociedades em geral estão sempre revelando formas novas de sociabilidade, isso é uma de suas características mais fenomenais...

Abraço, Bruno.

2 de fevereiro de 2010 às 15:46
Adriano Santos disse...

Parabéns Bruno pelo artigo. O desafio de compreender a realidade social enquanto um todo complexo é cada vez mais necessário nesse mundo fragmentado. Durkheim, não deixa de ser, portanto, uma referência de perspectiva para a nossa empreitada. Sucesso.

Adriano Santos

2 de fevereiro de 2010 às 16:48
Bruno José disse...

De fato camarada, somos "adestrados" cientificamente a não mais pensar em concepções que abarquem a totalidade social...

Por isso, sempre é valido rever os clássicos.

saudações...

2 de fevereiro de 2010 às 22:00
gibranduraes disse...

Um texto bastante interessante Zecão. Parabéns. A forma como as sociedades se comportam como animais podem ser bem observadas no livro "O Senhor das Moscas" de Wilian Golding.
Recomendo a leitura!

2 de fevereiro de 2010 às 23:16
Anônimo disse...

Se ja é dificil entender o individuo. quanto mais um aglomerado deles. Ao mesmo tempo em que possui caracateristicas pessoais, tem muito mais ainda elementos formulados pela sua vivencia coletiva. Dificil é discernir: o que é compõe a minha subjetividade que nao é/foi resultado de uma construçao social? Agora vc olha para o coletivo, uma correria louca, uma complexidade infinita, um entrelaçamento.. Dá pra compreender tudo isso? Varias descriçoes sao validas. mas nenhuma sera completa e carregará todo o sentido que perpassam nas relaçoes sociais.

Euristela Sodré

1 de março de 2010 às 22:41
Bruno José disse...

perfeito Stela,

impossível abarcar tudo, na verdade, a sociologia tenta tratar de coletividades e de linhas gerais das manifestações sociais, mas nunca, jamais se pretende compreender tudo que é social, principalmente, quando se trata dos variados sentidos que colocamos nas relações sociais, aí, a coisa fica impossível...

abraço.

p.s: todavia, é justamente devido a essa complexidade social que torna a sociologia e as ciências sociais algo sempre relevante e instigante.

7 de março de 2010 às 18:03

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