quarta-feira, 1 de julho de 2009

Jacinta: a sequestradora de policiais

No México, uma mulher indígena está sendo protagonista de uma das mais absurdas histórias que eu já ouvi: Dona Jacinta, 48 anos, com pouco mais de um metro e meio de altura, está presa por ter sido condenada pelo sequestro de seis (isso mesmo, seis) policiais federais mexicanos. Vendedora de rua e de tipo pacifico, a senhora está presa no presídio feminino de Querétaro depois da decisão de um juiz que resolveu aplicar-lhe uma pena de 21 anos de reclusão.

Mas, como uma senhora frágil e pobre poderia ter sequestrado seis policiais fortes e treinados? Aí é que está. Tudo indica que a polícia mexicana tenha armado a prisão da vendedora ambulante para usá-la como uma espécie de “bode expiatório”. Isso porque, os seis policiais, sem nenhuma identificação ou fardamento, no dia 26 de março de 2006, entraram num confronto com vendedores ambulantes que trabalhavam na mesma região que Jacinta: naquele domingo os policiais apreenderam intempestivamente as mercadorias dos ambulantes que trabalhavam na comunidade indígena de Santiago Mexquititlán. Revoltados os vendedores partiram para cima dos agentes para pedir suas devidas identificações. Os agentes se negaram a entregar os distintivos, o que causou uma grande confusão.

Depois de muita discussão e de muitas mercadorias perdidas, os policiais decidiram que entrariam num acordo com os ambulantes: para que a tensão terminasse, os policiais teriam que pagar pelos danos causados aos ambulantes. E assim foi acordado. No entanto, para garantir que o trato seria cumprido, o vendedores exigiram que um dos policiais ficasse com eles enquanto os outros iam providenciar o dinheiro. Ficou o chefe de polícia Jorge Cervantes Peñuelas.

Afastada de tudo, Jacinta (que também é vendedora ambulante) se dirigiu a certa altura do dia para uma farmácia, onde tomaria uma injeção. Lá, ela foi informada da confusão que estava acontecendo entre os vendedores e os policiais e, então, resolveu, por mera curiosidade, se aproximar do local do “embate”. Por azar de Jacinta e Sorte dos “policiais-meliantes”, um fotógrafo que estava no local bateu uma foto em que a pacata senhora aparecia logo ao fundo da cena. Foi o suficiente para que três meses depois a polícia batesse em sua porta para prendê-la: acusada de sequestrar o seis policiais envolvidos na confusão, Jacinta foi conduzida à delegacia: "Naquela tarde, quando cheguei a minha casa já estavam lá os policiais. Eles me perguntaram: 'Você é Jacinta?' Quando disse que sim, me prenderam. Vieram me buscar com armas e caminhonetes. Não tive medo, porque sabia que não tinha feito nada de mal. Disseram-me que iam me levar para depor pelo corte de uma árvore. Mas o motorista dirigia muito mal, dando guinadas, freando e acelerando. Um dos agentes me perguntou: 'E de que religião você é? Com certeza votou no PRD [o partido da esquerda mexicana]'. Respondi que sou católica e então me disse: 'Ah, desculpe'. Puxei meu rosário e comecei a rezar o pouquinho que sei de memória. Quando cheguei ao juizado, tive de assinar muitos papéis escritos em espanhol, papéis que não entendia". Depois de muito tempo, quando a senhora se atreveu a perguntar por que estava ali, a resposta a deixou gelada: "Por sequestrar seis policiais federais", disse Jacinta ao repetir a história á imprensa (fonte: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/2009/07/01/ult581u3334.jhtm ).

Apesar de ter poucas provas e de Jacinta ter muitos argumentos fortes contra a absurda tese do sequestro, o Juiz condenou a senhora a cumprir pena. Conforme publicado pelo portal Uol notícias, nada disso serviu para a defesa da senhora. “Nem mesmo o fato de que em suas primeiras declarações nenhum dos policiais falou dela nem de ninguém parecido. Só muito tempo depois os investigadores repararam que aquele fotógrafo de Querétaro tinha tirado um instantâneo dos minutos finais do incidente”.
Jacinta nunca se conformara pela prisão, mas, por ser pobre, ninguém nunca havia dado atenção ao seu caso. Quase três anos se passaram, até que uma organização de direitos humanos descobriu a história e entrou com uma representação contra a prisão da índia. Hoje, a opinião pública toma conhecimento de mais um absurdo caso envolvendo uma polícia arbitrária e uma justiça falha. Talvez, se a organização de direitos humanos não tivesse descoberto o absurdo, Jacinta ainda estivesse sem nenhuma esperança de ver seu caso realmente resolvido. Afinal, como sabiamente nos dizem os populares: “a corda arrebenta do lado mais fraco”...
Foto: El país
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3 Comentários:

Sandra Franzoso disse...

Meu Deus, que absurdo! E como esse caso, há infinitos outros por aí. Mas, não há como sustentar essa história, ainda mais com a ajuda dos membros dos Direitos Humanos.
Puxa, que coisa triste.

1 de julho de 2009 às 16:05
Henrique Oliveira disse...

Realmente. Não é a primeira vez que vemos casos assim sendo noticiados por aí. Há muito desmando sendo velado por esse nosso mundo (inclusive no Brasil)e isso é revoltante...

2 de julho de 2009 às 09:17
Bruno José disse...

É a velha tese a justiça funciona para os que tem dinheiro e assim acesso...

Toda dia acontece casos similares no Brasil, principalmente, envolvendo os pobres...

e ninguém fala nada...

absurdo!!

Temos uma imprensa blindada que sonega informações...Viva internet

saudações, Bruno/Zecão.

2 de julho de 2009 às 14:10

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