quarta-feira, 27 de maio de 2009

Os velhos problemas

Em tempos de fama midiática da célebre gripe A h1n1 (antes, suína), um velho problema parece ter sido descartado, esquecido pela nossa atenção volatizada. A dengue (lembram-se dela?) continua matando no país. E o pior: a dengue só permanece massacrando tanto, porque o sistema de saúde que atende as populações pobres é decadente em várias partes do Brasil. Em balanço divulgado pelo Ministério da Saúde há alguns dias atrás, pudemos ver que no Estado da Bahia (onde a situação da dengue é mais crítica no país) o número de casos da doença cresceu mais que o triplo do número de ocorrências registradas em 2008.

Enquanto a gripe A tem apenas nove casos confirmados no país (afinal, é uma doença de quem viaja ao exterior), a dengue já fez 53 vítimas na Bahia (só na Bahia!). È o maior surto da doença no Estado desde 1995. Conforme publicado na Folha Online, “O Estado registrou um salto no número de casos de dengue neste ano. No total, desde o início de janeiro até o dia 16 de maio, foram notificados 73.683 casos -um aumento de 173% em relação ao mesmo período do ano passado. [...] Dos 73 mil casos, 1.364 foram notificados como suspeita de dengue hemorrágica -a forma mais grave da doença, que leva à morte. Metade das 53 mortes atingiu adolescentes e crianças menores de 15 anos.”

A verdade é que por detrás desses números alarmantes está um sistema de saúde falido. Na região de Irecê, na Bahia (uma das mais afetadas pelo surto), por exemplo, falta atendimento para muitos dos doentes dos municípios mais pobres. Nos povoados, onde subsistem os plantadores de feijão de sequeiro e outras parcas culturas, os homens e mulheres da lida convivem diariamente com a ameaça da dengue e a combatem com muita fé e o famoso chá de “cravo de defunto” (planta típica da região usada popularmente como tratamento para a enfermidade). “Acho que se eu pegar essa doença de novo eu morro, meu filho”. Me disse uma senhora sertaneja que se curou duas vezes da enfermidade sem pisar os pés em um hospital.

O problema é que muitas dessas mortes na Bahia poderiam ter sido evitadas se os hospitais da regiões atingidas estivessem minimamente equipados. Falta de tudo um pouco: remédios, ambulâncias, médicos, exames... E o povo tenta se virar da “maneira que dá”. Para quem conhece o sertão do nosso país, não é tão difícil se deparar com os abandonos acachapantes que afligem a população desamparada. A prefeitura de Canapi, em Alagoas, por exemplo, transposta seus doentes numa ambulância caindo aos pedaços. Vejam:

Em cajazeiras, na Paraíba, reside outro exemplo: políticos e politiqueiros trocam acusações asseverando que o Hospital Regional da cidade, está virando um verdadeiro “stand de vendas” de exames e cirurgias. Conforme publicado no site “O bê-á-bá do sertão” um vereador da cidade afirmou que “que alguns dos profissionais de saúde que laboram naquela casa de saúde, costumam cobrar na maior cara de pau para realizarem cirurgias e exames, usando a própria estrutura do hospital para ganhar dinheiro extra, causando transtorno às famílias de pacientes”. O deputado estadual da Paraíba José Aldemir (DEM) foi mais além e, conforme publicado pelo Diário do Sertão, “disse que o Hospital vive um momento de caos e denunciou que faltava uma série de necessidades essenciais”. Segundo as afirmações de Aldemir, ”faltava no local desde médico e enfermeiros até soro, medicamento, roupa de cama e seringa. E, o que era mais grave, segundo o parlamentar, faltava até tubos de oxigênio para atender os internos na Unidade de Terapia Intensiva”.

O que entristece é que as condições do Hospital de cajazeiras não são diferentes da situação deplorável que assola diversas casas de saúde no sertão nordestino. Essa epidemia de dengue que aflige a Bahia é a prova de que nosso sistema público de saúde precisa de uma séria reformulação. Em cidades da microrregião de Irecê, é corriqueiro que se troque voto por remédio. As ditas pessoas “contra” (ou seja, os opositores da “situação”), são excluídas do acesso a um direito que lhes é assegurado constitucionalmente. Barra do Mendes, Ibipeba, Ibititá, Irecê... Em todos esses municípios se compra votos com os serviços de saúde; em todos esses lugares faltam profissionais e governantes éticos.

Em Canapi, Cajazeiras ou na microrregião Irecê, impera o descalabro nos sistemas de saúde. Talvez por isso a dengue tenha matado tantas pessoas em nosso país!

Fotos: http://www.flickr.com/photos/ortizmj12/ e Sertão 24h
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