Salvador: emergência, paliativos e "oportunidades"

Salvador: emergência, paliativos e "oportunidades"

Depois de 14 dias, Salvador, que já tinha decretado municipalmente seu estado de emergência no último dia 22 de Abril, quando teve sua primeira vítima fatal em decorrência do temporais , teve ontem a noite, junto com mais seis cidades baianas, reconhecido pelo Governo do Estado o nível emergencial de cuidado em relação ás chuvas: Vera Cruz, Simões Filho, Lauro de Freitas, Guaratinga, Camacan e Mascote, agora estão, junto com a capital, integrando a mais nova lista oficial de cidades que se encontram estado elevado de atenção por causa dos temporais.

Com uma das mais fortes chuvas do ano, ontem a Capital Salvador, viu também o seu número de vítimas subir um pouco mais: três pessoas morreram soterradas em áreas de risco da cidade. Além de mais três que ficaram feridas hoje (quarta feira) em mais um desabamento. O povo da capital baiana, aquele que não está nos prédios do corredor da vitória, está vivendo verdadeiros "dias de angústia" com advento destes temporais. Quem conhece Salvador, sabe que a cidade, em muitos dos seus bairros, não tem a mínima infrainstrutura para comportar chuvas torrenciais. Por aqui se diz que qualquer "pingo d'água" é forte o suficiente para parar a cidade (e quem anda de ônibus sabe do que eu estou falando). Em bairros e invasões pobres da cidade, o que se vê é um povo vivendo em casas amontoadas, construídas sobre encostas completamente inseguras. Os órgãos fiscalizadores, porém, parecem só dar as caras para avaliar essa situação de perigo quando se iniciam as tragédias. Aí autoridades se reúnem, decretam-se "estados" e mais "estados" e... Continua tudo na mesma.

Nessas horas, a "cara" da população da dita "cidade da alegria" tende a aparecer em uma das suas mais tristes facetas: a de um povo abandonado e sem condições de moradia. Os ricos sentem pena, doam cobertores, fazem sopas, voltam para os seus apartamentos e... Nada muda... No ano que vem, sem querer ser apocalíptico, será do mesmo jeito!

Então, o que "eles" fazem?

Ontem a noite, o Governador Jaques Wagner (PT) esteve reunido com os prefeitos de Salvador, Lauro de Freitas e Simões Filho, para avaliar os estragos causados pelo aguaceiro que vem despencando dos céus baianos nos últimos dias. E, ainda ontem, ele deu um "passeio" de helicóptero sobre as áreas devastadas da cidade e, finalmente, parece ter se convencido do estado de penúria que atinge algumas pessoas da terceira maior cidade do país.

O Governador ordenou que se intensificassem a ajuda aos desabrigados, e o prefeito João Henrique foi á TV pedir doações. Tudo dentro do protocolo. Inclusive, a aparição de Geddel Vieira Lima (PMDB) que, nesta quarta feira, do alto da sua posição de Ministro da Integração Nacional e principal "protetor" de João Henrique (e, principalmente, dotado dos interesses de candidato virtual a sucessão do governo no Estado), irá dar outro "passeio" de helicóptero pelas áreas afetadas. Afinal, político que é politico nunca deve perder uma oportunidade de uma auto-promoção.

No entanto, mesmo com as falas de Wagner, com os pedidos e ações paliativas de João e com as aparições oportunistas de Geddel, a Bahia ainda está em situação calamitosa. Os pobres estão, mais uma vez, sofrendo as consequências daquele velho "fechar de olhos" que precede toda crise. Vivendo em total insalubridade, uma fatia da "cidade da alegria" está triste. Enquanto outros tentam colher seus dividendos políticos!

Nestes primeiros dias de maio, Salvador registrou 168,8 mm de chuva, 116,7 mm nos últimos dois dias. A previsão para todo o mês é de 349,5 mm...

Foto: http://noticias.uol.com.br/